Seus clientes realmente notam o que você quer mostrar?
- Gisele Toretti
- 8 de mai.
- 3 min de leitura
Lições da “Cegueira à Mudança” para Negócios
Empresas pequenas e médias costumam investir tempo, energia e recursos para comunicar seus diferenciais: um atendimento mais próximo, um produto único, uma entrega mais ágil, um novo visual. Mas será que os clientes realmente percebem essas mudanças e mensagens como você espera?
A ciência cognitiva nos mostra que talvez não. Isso por conta de um fenômeno fascinante e contraintuitivo chamado cegueira à mudança – a tendência humana de não perceber alterações óbvias em seu ambiente, especialmente quando a atenção está direcionada para outro ponto.

O experimento do gorila invisível
Um dos estudos mais famosos sobre esse fenômeno foi conduzido pelos psicólogos Daniel Simons e Christopher Chabris em 1999. No experimento, participantes assistiam a um vídeo onde duas equipes passavam uma bola de basquete. A tarefa era contar quantos passes a equipe de camiseta branca realizava. No meio do vídeo, uma pessoa fantasiada de gorila entra na cena, para no centro, bate no peito e sai. Metade dos participantes simplesmente não percebeu o gorila.
Essa experiência se tornou símbolo do quanto a atenção humana é limitada e seletiva. Estamos tão focados em uma tarefa que podemos ignorar completamente algo grande, óbvio e central. Em um mundo saturado de estímulos, isso acontece o tempo todo com consumidores.

E se o seu “gorila” for sua proposta de valor?
Outro experimento de Simons, em parceria com Daniel Levin (1998), foi ainda mais provocador. Um pesquisador abordava um pedestre para pedir informações. Durante a conversa, dois homens carregando uma porta passavam entre os dois, e o pesquisador era secretamente substituído por outra pessoa. Mesmo com diferenças evidentes de roupa, voz e fisionomia, cerca de metade dos participantes não percebeu que falava com alguém completamente diferente.
Agora imagine isso acontecendo com a sua empresa: você muda o tom de voz da marca, o layout do site, a identidade visual — e os clientes continuam agindo como se nada tivesse mudado. A questão não é que seu público não se importa. É que, em meio a tantas mensagens, eles podem simplesmente não notar.
O que isso ensina para as empresas?
Empresários muitas vezes assumem que seu público percebe suas ações, entende seus diferenciais e valoriza os pequenos ajustes na comunicação. Mas isso só é verdade quando a atenção do consumidor é guiada de forma estratégica.
Aqui entram três aprendizados práticos:
1. Menos é mais
Atenção é um recurso escasso. Informações demais competindo pelo foco tornam sua mensagem principal invisível. Simplifique. Use textos objetivos, chamadas claras e evite ruído visual.
2. Construa hierarquias visuais
Use contraste, tamanho de fonte, cores e disposição dos elementos para guiar o olhar do usuário para o que realmente importa. Seu "diferencial" precisa ser mais do que dito — ele precisa ser visto.
3. Teste o que está sendo percebido
Faça testes reais: peça que um cliente diga, em poucas palavras, o que sua empresa oferece de diferente. O que ele notou no seu novo post? O que ficou mais marcante após visitar seu site? A resposta pode surpreender e guiar boas decisões.
O marketing como exercício de atenção
No final das contas, marketing é um jogo de percepção. De nada adianta ter o melhor produto ou serviço se as pessoas não notam o que faz sua marca especial.
Em tempos de distração constante, vencer essa batalha exige mais do que boas intenções. Exige entender como a mente humana funciona — e adaptar sua comunicação a isso.
Referências:
Simons, D. J., & Chabris, C. F. (1999). Gorillas in our midst: Sustained inattentional blindness for dynamic events. Perception, 28(9), 1059–1074. https://doi.org/10.1068/p281059
Simons, D. J., & Levin, D. T. (1998). Failure to detect changes to people during a real-world interaction. Psychonomic Bulletin & Review, 5(4), 644–649. https://doi.org/10.3758/BF03208840
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